Uma lua de inverno

Uma lua de inverno

quarta-feira, outubro 10, 2007

Pra minha mãe, com saudades



De repente me deu uma saudade do cinema de Walter Salles. Não sei ao certo o que ele está a produzir no momento. Li há algum tempo que ele finaliza um filme chamado "Linha de Passe". Mas, a nostalgia que me deu foi do tempo de "Central do Brasil". O dilema ético de Dora, a trilha magnífica de Jaques Morelenbaum - um recorte de um Brasil analfabeto, abandonado e desigual. O ano era 1998. Lembro que encomendei a trilha a um amigo que estava nos EUA, pois no Brasil ainda não tinha sido lançada. Comemorei cada prêmio que o filme recebeu e me indignei com a derrota pra o italiano "A Vida é Bela".
Mas, ao escrever estas linhas, me dou conta que esse filme, além de representar pra mim o surgimento do novo cinema brasileiro, me traz à memória minha mãe. E mais: que para além de sentir falta do cinema de W. Salles, eu sinto muito mesmo é falta dela. Júlia se foi em 1999. Recordo que quis muito que ela assistisse ao filme de Salles. Não teve como ir ao cinema comigo. Daí, no ano seguinte, a TV aberta anunciou que iria passar. Vibrei com a idéia de finalmente a minha mãe poder comentar comigo o "Central" - afinal, ela era minha grande interlocutora. Não deu. Ela adoeceu mortalmente um pouco antes e no sábado quando o filme passaria ela estava em coma.
Morreria uns dias depois. Deixou, além do vazio, a sensação de que aquele filme era nosso, era pra ter sido. E hoje, a saudade me ronda todos os dias. Talvez por isso mesmo que "Central do Brasil" seja tão especial. Talvez pq eu seja um pouco a personagem de Fernanda Montenegro ao terminar a última carta escrita por ela, aquele feita para quem ficou para pra trás: "Tenho saudades de tudo...."