Uma lua de inverno

Uma lua de inverno

domingo, fevereiro 16, 2014

Por um café que acorde pra vida!

Ela esvaziou a caneca de café em vão. Não se acorda para a vida nem com várias canecas de café, no máximo se desperta para um dia a mais, um dia a mais de trabalho.
O café, pensava ela, há de me fazer ver melhor porque 'cargas d' água ela insiste', teima e reluta. Não deixa ir, se apega. Irrita-se, claro! Duro arrancar do peito, da cabeça, enfim, do corpo inteiro alguém que se ama há tanto tempo.
Mas, hoje ela entrou na cozinha da casa dele, mais café? Não era bem isso. Olhou nos dele e viu o desconhecido. Como assim? Não era ele? O amor da vida? Era e não era. Não mais. Ele não a quer mais. Tolera! Quiçá uma certa dose de pena, ou até um com um toque de culpa. Aliás, quem  não se culpa por não ter/poder retribuir o amor que lhe é endereçado? Porém, pena não é amor. Culpa não é tesão. Nem serve, não cabe, não contenta.
E ela, após todo esse tempo ainda não consegue acordar. Bem acordar, deixar ir. Crer que é possível viver sem ele, posto que de fato ele não está mais ao lado dela há tempos. E é no tempo que ela se perde, porque se agarra a uma época em que os lábios selavam o que as almas já tinham tocado bem antes, tal como estão os relâmpagos para os trovões.
Porque este café não ajuda, ela se pergunta? Nem se dá conta que essa uma caneca de café pela primeira vez a fez perceber que os olhos dele miravam além dela. Ouviu The  Turtles pela última vez. 
Mais café, longe dali, se faz favor.

Não mais felizes juntos: