Uma lua de inverno

Uma lua de inverno

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Escuros da ribalta


Quarta-feira é dia "meiote"! Meio de semana, nem a preguiça do começo, nem a expectativa do final. Nem peixe, nem carne...
Mas enfim, nesta madrugada de quarta é que me dou conta de vez que o cine Olímpia vai fechar suas portas amanhã, quinta, desfecho anunciado e com gosto de enterro de companheiro morto pela repressão, quando ainda tínhamos com o que sonhar.
Não há público que justifique o custo de manutenção da sala de exibição mais antiga ainda em funcionamento no Brasil, dizem os administradores.
Fico a pensar. Foram-se quase todos cinemas de rua, substituídos por contemporâneas salas de som Double Digital em shoppings, guarnecidas de pipocas em baldes, refrigerantes aguados em máquinas e menu comercial.
Daí me pergunto se isso é assim mesmo, tudo acaba, afinal? Em Buenos Aires reformaram um conjunto de salas na 9 de Julho e o cinema de rua reabriu suas portas junto com a economia do país, algo de deixar inveja a nós vizinhos menos letrados e menos engajados (sem ofensa a ninguém, contudo, algum dia fomos às ruas bater panelas vazias? Não que eu me lembre).
Bom, mas eu obviamente lamento mais esse espaço perdido, quisera eu que o Unibanco olhasse para o Norte e abrisse ali um espaço. Nem precisava ser tão grande como em São Paulo, ou chique como em Fortaleza, mas algo entre o preservado e a sutil mudança.
Sei lá, acho pouco provável que algo desse tipo ocorra, afinal aqui não chegam coisas boas das grandes cidades: Tok e Stok, Espaço Cultural Banco do Brasil, Rede Metropolitanas de Alta Velocidade, Livraria Cultura, entre outras coisas mais...porém, tem algo que chega, e chega "chegando", tal qual nas grandes metrópoles do país, a violência urbana.
Pois é, na minha intuitiva opinião é ela mesmo que fez com que o Olímpia, o sentar na calçada para papear com vizinhos, andar despreocupada sob os túneis de mangueiras, namorar no carro....tudo isso e outras coisas mais nos fossem roubadas.
E, assim como o senhor secretário de segurança do Estado disse que a violência é culpa da imprensa, deve ser dela também a culpa do Olímpia cerrar suas portas.
Disso tudo, qualquer semelhança com Cinema Paradiso, Splendor e Cidade de Deus não é mera coincidência.
Dormir com um barulho desses, nunca! Haja tartarato de zolpidem.

Um comentário:

bom-som disse...

É Ana, você disse exatamente tudo.

Quando citas sobre as conversas em porta de rua, namoros ao ar livre eu sinto saudades de uma época - pouco - vivida. É estranho... às vezes sinto saudades de tempos que nem vivi.

Me emocionaste quando falaste sobre o nosso grande cinema. Se na minha humilde e moleca experiência de vida eu pude reunir um punhado de boas recordações, imagina você... que nem é apaixonada por cinema... rs... o depoimento do pipoqueiro na matéria que o Liberal pôs no ar sobre o fechamento do cinema me transportou para muvucas de pré-estreias que participei.

Como disseste, os cinemas de rua estão perdendo espaço, não demorará muito e nossos Cinemas 1,2 e 3 e Cine Nazaré serão extintos. Na memória, todas as emoções que rolaram nas poltronas. Choro, riso, amor. Fiquei preocupada agora, extinguirão também o Ópera? (rs)

Ok, eu concordo que é realmente muito mais cômodo e seguro visitar os Moviecom’s da vida. Mas como deixaste claro, o patrimônio e a valorização cultural ficam onde? O Palácio agora é Universal... dizem que querem transformar o Olímpia em Centro Cultural... sei...

Lembrei agora de um dos trabalhos que fizeste na Unama com a turma...acho até que foi no primeiro dia de aula. Acredito que o papel do mestre é esse, é marcar na cabeça do aluno mais do que um tópico teórico, mas uma lição de vida. A forma como falavas da tua paixão pela comunicação me encantava e sempre ficará guardada, não é à toa que te admiro tanto. Mas estou divagando e puxando o saco (de forma sadia)... voltando ao trabalho que passaste... tínhamos que falar sobre o que sentíamos no Cinema, desde então passei a entender o porquê de gostar dele... é aquela coisa, a gente às vezes gosta sem procurar justificar e quando encontra os argumentos que justificam, fica ainda mais apaixonada... isso rendeu uma postagem há um tempo atrás http://spaces.msn.com/publicitariababy/blog/cns!E6E223F8DAE685BE!750.entry

Ana, não esqueça nunca que você foi mais do que uma professora, foi uma grande inspiração. Parabéns pela iniciativa de publicar e compartilhar seus repentes valiosos e tenha certeza de que acabou de ganhar uma leitora ativa para o seu Blog.